19 de março de 2011

Vivendo a Quaresma - 2º Domingo


A nossa vida cristã pode ser comparada a uma caminhada que deve ser percorrida na escuta atenta de Deus, na observância  aos Seus planos.
A Quaresma é um momento forte para rever essa caminhada.
As Leituras bíblicas deste II Domingo da Quaresma ajudam-nos…

Na 1ª Leitura, (Gen 12,1-4)
                                   
Deus chama Abraão, convida-o a deixar a terra, a família e a partir para uma outra terra.
Deus oferece-lhe a Sua bênção e a promessa de uma família numerosa,   que será testemunha da Salvação de Deus diante de todos os povos.
Diante do desafio de Deus, Abraão pôs-se a caminho…
Abraão percebe o projecto de Deus segue-o de coração aberto.

 Este texto lembra-nos que por detrás da história da humanidade há DEUS que tem um projecto para cada um de nós e para o mundo e que esse projecto é de amor e de salvação… Quantas vezes O ignoramos e prescindimos das Suas orientações e propostas. Deus continua a vir ao nosso encontro, e desafia-nos a caminhar com Ele.
Estou disposto, estamos dispostos, a colaborar com esse Deus que tem um plano para todos e cada um de nós e a “embarcar” com Ele na construção de um mundo mais feliz?

Na 2ª Leitura, (2 Tim 1,8b-10)


Paulo exorta Timóteo a superar a sua timidez e a ser um modelo de fidelidade no testemunho da fé.
Provavelmente na altura em que o texto é escrito Timóteo é,  bispo de Éfeso.
Estamos no início das grandes perseguições; muitos cristãos estão desanimados e vacilam na fé. É preciso que os líderes das comunidades – entre os quais está Timóteo – mantenham o ânimo e ajudem as comunidades a enfrentar, com fortaleza, as dificuldades que se avizinham.
É preciso termos consciência de que nós, os crentes, somos hoje, aqui e agora, as testemunhas vivas de Deus e do Seu projecto para os homens e para o mundo.
Nada e muito menos o nosso comodismo, nos pode distrair dessa responsabilidade.
Os nossos contemporâneos, têm de encontrar em nós sinais vivos de Deus.
É verdade que não é fácil ser testemunha de Deus no mundo de hoje que ignora os apelos de Deus ou até manifesta desprezo pelos valores do Evangelho!
Mas também é verdade que as dificuldades não podem ser uma desculpa para nos demitirmos das nossas responsabilidades e de levarmos a sério a vocação a que Deus nos chama.

No Evangelho  (Mt 17,1-9)
 Com Jesus subamos à Montanha


Este Evangelho ensina-nos que Jesus é o Filho de Deus e que o projecto que Ele nos propõe vem de Deus.
Está construído sobre elementos simbólicos tirados do Antigo Testamento.
O monte situa-nos num contexto de revelação: é sempre num monte que Deus Se revela; e, em especial, é no cimo de um monte que Ele faz uma aliança com o seu Povo.
A mudança do rosto e as vestes de brancura resplandecente recordam o resplendor de Moisés, ao descer do Sinai depois de se encontrar com Deus e de ter as tábuas da Lei. (cf. Ex 34,29).
A nuvem, por sua vez, indica a presença de Deus: era na nuvem que Deus manifestava a sua presença, quando conduzia o seu Povo através do deserto (cf. Ex 40,35; Nm 9,18.22; 10,34).
Moisés e Elias representam a Lei e os Profetas (que anunciam Jesus e que permitem entender Jesus); mais, são personagens que, de acordo com a catequese judaica, deviam aparecer no “dia do Senhor”, quando se manifestasse a salvação definitiva (cf. Dt 18,15-18; Mal 3,22-23).
O temor e a perturbação dos discípulos são a reacção lógica de qualquer ser humano diante da manifestação da grandeza e da majestade de Deus. (Cf Ex 19,16; 20,18-21).
As tendas parecem aludir à “festa das tendas”, em que se celebrava o tempo do êxodo, quando o Povo de Deus habitou em “tendas”, no deserto.

O relato da transfiguração de Jesus é antecedido do primeiro anúncio da paixão (cf. Mt 16,21-23).
O caminho da salvação esperado pelos discípulos é bem diferente…
Por isso, ficam profundamente desanimados. A aventura parece caminhar  para um grande fracasso.  Para fortalecer o ânimo abalado dos discípulos, Jesus toma consigo Pedro, Tiago e João, e revela-lhes no Monte Tabor a glória da Sua divindade.
Após um momento de medo, reencontram a paz e a alegria.

Com a TRANSFIGURAÇÃO, Mateus quer ensinar-nos duas coisas:
               - Revelar  QUEM É JESUS:   É "o Filho amado do Pai" e
               - Convidar: Escutem o que ele diz.

Pela TRANSFIGURAÇÃO, Deus demonstra que uma existência feita dom não é fracasso, mesmo que termina na cruz.
A vida plena espera no final do caminho, todos os que forem capazes de pôr a sua vida ao serviço dos irmãos, à semelhança de Jesus.
O Prefácio da Missa, resume todo o sentido deste Domingo: "Depois de anunciar aos discípulos a sua morte, manifestou-lhes no monte santo o esplendor da sua glória, para mostrar, com o testemunho da Lei e dos Profetas, que pela sua paixão alcançaria a glória da ressurreição.”
(a transfiguração, por Rafael)

Também nós somos chamados a uma caminhada, que começa com o BAPTISMO.
No final dessa viagem, seremos envolvidos pela mesma "nuvem luminosa", que envolveu o Mestre e brilharemos como o sol no reino do Pai.

O Papa enviou-nos uma extraordinária  Mensagem Quaresmal, que inicia com as Palavras de S. Paulo: “Sepultados com ele  no BAPTISMO, foi também com ele que ressuscitastes". (Cl 2,12)

Em resumo,  A TRANSFIGURAÇÃO do Senhor antecipa a Ressurreição e anuncia a divinização do homem. Conduz-nos a um alto Monte para acolher de novo em Cristo, como filhos no Filho, o dom da Graça de Deus: "Este é o meu Filho amado: Escutai-o".
Descendo do Tabor, voltemos à realidade diária

Os três discípulos, que testemunharam a transfiguração, parecem não ter muita vontade de “descer à terra” e enfrentar o mundo e os problemas dos homens.
Representam os que vivem de olhos postos no céu, alheados da realidade concreta do mundo, sem vontade de intervir para o renovar e transformar.
No entanto, ser seguidor de Jesus, ser Sua testemunha, obriga a “regressar ao mundo” para testemunhar aos homens – mesmo contra ventos e marés – que a realização autêntica está no dom da vida.
Obriga-me, obriga-nos a “mergulhar” no mundo, nos seus problemas e nos seus dramas, a fim de dar o nosso contributo para o surgir de um mundo novo, um mundo mais justo e mais feliz.
A vivência da nossa fé, é um compromisso com Deus, que se faz amor, dando e dando-se aos outros.

Para a caminho desta semana eu Te peço Senhor:
Forças na aventura da fé. Porque a aventura da fé não me deixa repousar, pois em cada dia oiço a Tua voz “deixa a tua terra…”.
Forças na fidelidade à fé. Porque também me é dirigido o apelo “sofre comigo pelo Evangelho…”.
Nesta Quaresma Senhor quero aprender que conTigo, as trevas  que encontro na minha vida e que por vezes sou eu que as faço,  podem e devem ser Ressurreição.
Nesta Quaresma Senhor, quero reconhecer-Te em cada momento, por mais desfigurado que me pareça, até ao dia em que venhas transfigurar-me definitivamente.

Um comentário:

Hannah disse...

É realmente mais fácil viver na oração do que "descer à terra" e ser Cristo no mundo.
Obrigada por mais uma partilha!