11 de abril de 2011

Vivendo a Quaresma - 5º Domingo

Estamos vivendo o 5º Domingo da Quaresma de 2011, dia em que a liturgia nos garante que DEUS NOS QUER COMUNICAR UMA VIDA para além da vida biológica.
É a Igreja, que pelo Baptismo, gera uma vida nova. Diz-nos o Concílio Vaticano II: “A Igreja, pela pregação e pelo Baptismo, gera, para a vida nova, os filhos concebidos por acção do Espírito Santo e nascidos de Deus” (LG 64) e “ Pelo Baptismo são os homens enxertados no Mistério Pascal  de Cristo: mortos com Ele, sepultados com Ele, com Ele ressuscitados” (SC 6).
 
1ª Leitura – Ez 37,12-14
 

Situemo-nos para compreender o ambiente em que o texto foi escrito.
Ezequiel, sendo o profeta da esperança, está desterrado na Babilónia desde 597 a.C. (a deportação dá-se quando Nabucodonosor conquista, pela primeira vez, Jerusalém).
O ministério de Ezequiel, podemos dividi-lo em duas fases. A primeira, que decorre entre 593 aC (altura em que aconteceu o chamamento de Deus) e 586 aC (altura em que Jerusalém é arrasada pelo exército de Nabucodonosor e acontece nova leva de exilados para a Babilónia). É uma fase em que o profeta procurava destruir falsas esperanças, anunciando que o cativeiro estava para durar. Mais, que os que tinham ficado em Jerusalém e que continuavam a pecar (mantendo uma atitude de infidelidade para com Deus), iriam engrossar o número dos desterrados.
A segunda fase do ministério de Ezequiel decorre a partir de 586 aC., até por volta do ano 570 aC, altura em que os exilados, vivendo numa terra estrangeira, sem Templo, sem sacerdócio e sem culto, estavam desesperados e duvidavam da bondade e do amor de Deus.
É dessa fase o texto que nos é proposto como primeira leitura. Um tempo em que o profeta procura alimentar a esperança e transmitir ao Povo a certeza de que o Deus libertador e salvador não os abandonou.
Os exilados, estão numa situação de tal desespero que poderemos considerar como estando numa situação de morte, pois não vêem perspectivas de futuro. O texto refere essa ausência de esperança como “estar no sepulcro”.
Deus promete ao Povo o regresso à sua terra, restaurando a esperança dos exilados num futuro de paz. Mais ainda, derramará o Seu Espírito – o ruah – sobre o Seu Povo.
Ruah não o podemos traduzir numa só palavra. É uma palavra hebraica que indica sopro de vida, vento, movimento do ar, hálito, espírito. É o vento criativo de Deus!

Quantas vezes, passamos,  por situações de desespero, em que tudo nos parece não ter sentido.  A morte de alguém que nos é querido, o desmoronar da família,  a traição de  alguém a quem amamos, a perda do emprego, eu sei lá, tantas coisas que nos lançam no vazio do qual parece não sermos capazes de sair.
Hoje, a Palavra de Deus garante-nos que não estamos abandonados… Deus caminha ao nosso lado. Em cada momento, lá está Ele, o único capaz de tirar vida da morte, a dizer-nos: “Vou abrir os vossos túmulos e deles vos farei ressuscitar
É sempre Deus e só Deus, que oferece aos homens a vida e a esperança…
No entanto Ele actua no mundo através dos homens, exactamente como actuou através de Ezequiel. Deus distribui uma vida nova com as palavras e os gestos dos homens.
Actualizemos em nós a Mensagem:
Já pensei que Deus me chama a ser uma luz de esperança no mundo?
Já tomei consciência de que é através dos meus gestos e das minhas palavras que Deus oferece a Sua vida aos homens meus irmãos, que peregrinam comigo?
Acredito que é o Espírito de Deus que me faz sair dos "túmulos" do desespero e do medo em que por vezes estou?


1ª Leitura – Rom 8,8-11
 

Na 2ª Leitura, Paulo lembra-nos  que foi o Espírito de Deus que ressuscitou Cristo e continua a sublinhar a unidade da revelação e da história da salvação: Deus tem um projecto de salvação para todos os homens, sem excepção.
E como é que a vida de Deus se comunica ao homem? Paulo desenvolve o seu pensamento de acordo com a seguinte sequência: a obediência de Cristo ao plano do Pai fez com que a graça da salvação fosse oferecida a todos os homens!
Acolhendo essa graça e aceitando receber o Baptismo, o homem (todo o ser humano) torna-se participante do dom de Deus.
A adesão a Cristo, torna os homens livres das cadeias do egoísmo e das amarras do pecado, transformando-os em homens novos. É o Espírito - que recebemos no Baptismo - que potencia essa vida nova.
Seguindo o pensamento teológico de Paulo, o Espírito é o responsável pelo facto de a vida nova que Deus oferece ao homem crescer e se desenvolver.
S. Paulo desenvolve nesta carta, uma das suas mais famosas antíteses: “carne”/”Espírito”.
Viver segundo a carne” significa, em Paulo, uma vida conduzida à margem de Deus enquanto que “viver segundo o Espírito” significa, uma vida vivida na órbita de Deus, conduzida pelos valores da caridade, da alegria, da paz, da fidelidade e da temperança, conforme nos diz na carta aos Gálatas.
Paulo recorda-nos que o cristão, no dia do seu baptismo, optou pela vida do Espírito. A partir daí, vive sob o domínio do Espírito. Está identificado com Cristo.
É, pois, o Espírito – presente naqueles que aderiram a Jesus e renunciaram à vida da “carne” – que liberta os crentes da morte do pecado, transformando-os em homens novos, os conduz à vida plena e definitiva.
Na verdade, no dia do meu Baptismo, através dos meus pais e padrinhos escolhi a vida “segundo o Espírito” e mais tarde, tive a oportunidade – em vários momentos da minha caminhada cristã – de confirmar essa opção inicial.
Hoje pergunto-me: A minha vida tem sido coerente com essa opção? Na minha vida tem sido uma “vida segundo a carne” ou uma “vida segundo o Espírito”?

Evangelho – Jo 11, 1-45
 
“Eu sou a ressurreição e a vida, diz o Senhor.
Quem acredita em Mim nunca morrerá.”
 
No Evangelho, Jesus apresenta-se como o SENHOR DA VIDA. É uma narração que não tem paralelo nos Evangelhos sinópticos.
A família de Betânia apresenta características dignas de nota…
O Evangelista, não faz qualquer referência a outros membros, para além de Maria, Marta e Lázaro: não há pai, nem mãe, nem filhos.
S. João insiste no grau de parentesco que une os três: são “irmãos”. Relembremos que a palavra “irmão” (“adelfós”em grego) será a palavra usada por Jesus, após a ressurreição, para definir a comunidade dos discípulos e era assim o tratamento entre os membros da primitiva comunidade cristã (Jo 21,23).
É uma família amiga de Jesus, que ama Jesus e que recebe Jesus em sua casa.
Um dos irmãos (Lázaro) está gravemente doente. As “irmãs” mostram a sua preocupação para com o “irmão” doente e informam Jesus.
A relação de Jesus com Lázaro é de afecto e amizade; mas Jesus não vai imediatamente ao seu encontro; parece, até, atrasar-se deliberadamente. Jesus deixa que a morte física do “amigo” se concretize. Este pormenor significa que Jesus não veio para alterar o ciclo normal da vida física do homem, libertando-o da morte biológica; veio, sim, para dar um novo sentido à morte física e para oferecer ao homem a vida eterna.
Depois de dois dias, Jesus resolve dirigir-se à Judeia ao encontro do “amigo”.
Jesus, ao chegar a Betânia, já o “amigo” tinha sido sepultado havia quatro dias.
Dá-se o encontro com Marta e Jesus inicia a sua catequese dizendo-lhe: “teu irmão ressuscitará”.
Marta pensa que as palavras de Jesus são uma consolação banal e que Ele se refere à última intervenção de Deus na história humana. Isso ela já sabe; mas não chega: esse último dia ainda está tão longe…
Jesus, no entanto, não fala da ressurreição no final dos tempos. O que Ele diz é que, para quem é amigo de Jesus, não há morte, sequer. Jesus é “a ressurreição e a vida”. Para os seus amigos, a morte física é apenas a passagem desta vida para a vida plena. Jesus não evita a morte física; mas Ele oferece ao homem essa vida que se prolonga para sempre.
A comunidade de Jesus (a comunidade dos que aderiram a Ele e ao seu projecto) é a comunidade daqueles que já possuem a vida definitiva. Eles passarão pela morte física; mas essa morte será apenas uma passagem para a verdadeira vida. E é essa vida verdadeira que Jesus quer oferecer. Perante esta catequese que culmina com “acreditas nisto?”, Marta manifesta a sua adesão ao que Jesus diz e professa a sua fé no Senhor que dá a vida “acredito, Senhor, que Tu és o Messias, o Filho de Deus que havia de vir ao mundo”.
Marta que encontrara n’Ele a resposta para a situação que a fazia sofrer – convida a irmã a sair da sua dor e a ir ao encontro de Jesus.
A cena da ressurreição de Lázaro começa com Jesus a chorar. Jesus mostra, dessa forma, o seu afecto por Lázaro, a saudade do amigo ausente. Ele, tal como nós, sente a dor, diante da morte física de uma pessoa amada. Mas a sua dor não é desespero.
Jesus chega junto do sepulcro de Lázaro. A entrada da gruta onde Lázaro está sepultado está fechada com uma pedra. A pedra é, aqui, símbolo do definitivo da morte. Separa o mundo dos vivos do mundo dos mortos. Mas Jesus, no entanto, manda tirar essa “pedra” ou seja, abate as barreiras criadas pela morte física.
A acção de dar vida a Lázaro é a concretização da missão que o Pai confiou a Jesus: dar vida plena e definitiva ao homem.
A questão principal do Evangelho deste domingo –  é uma questão determinante para a nossa existência de cristãos – é a afirmação de que não há morte para os “amigos” de Jesus – isto é, para aqueles que acolhem a sua proposta e que aceitam fazer da sua vida uma entrega ao Pai e um dom aos irmãos.
Os “amigos” de Jesus experimentam a morte física; mas essa morte não é destruição, é apenas, a passagem para a vida definitiva. Mesmo que estejam privados da vida biológica, não estão mortos: encontraram a vida plena, junto de Deus.
A família de Betânia, representa a “comunidade cristã”, formada por irmãs e irmãos. Uma família em que todos conhecem Jesus, em que todos são amigos de Jesus, em que todos O acolhem na casa da sua vida. Essa família passa pela experiência da morte, mas como são amigos de Jesus sabem que Ele é a Ressurreição e a vida

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