
"O coro Stella Matutina nasceu há aproximadamente 10 anos, com o objectivo de imprimir às celebrações litúrgicas da Catedral de Évora um nível musical digno da elevação do culto cristão.
Por isso, a sua especificidade consiste na interpretação de música litúrgica, clássica e moderna, e o seu objectivo fundamental em louvar a Deus pela arte dos sons e ajudar o povo cristão a exprimir a sua fé."
Foi nestes moldes que, no ano de 1998 (tinha eu 16 anos) me juntei aos Stella. Era um puto no meio daquela gente toda, mas gostava de cantar e tinha ali a oportunidade de o fazer de uma forma diferente. Entrei para o naipe do qual o meu irmão Hugo fazia parte... os tenores! Foi uma integração fácil... conhecia o maestro (Pe. Joaquim) há muito tempo, tinha a companhia do meu irmão mais velho e a maior parte do coro era bastante simpática, especialmente os tenores.
Entre estes fiz grandes amigos ao longo dos anos e vivi momentos muito bons... Ricardo, Ruben, Molero, Barradas, Pastorinho, Duarte, Joaquim, Taborda e Hugo foram alguns daqueles com quem partilhei os bancos em degraus na Sé.
Sempre me deu muito gozo cantar nos Stella, rodeado de amigos e pessoas descomplexadas que, tal como eu, tinham sempre o objectivo de fazer o seu melhor, não para serem considerados grandes músicos ou cantores, mas apenas para ajudarem da melhor forma o povo cristão a louvar a Deus. De entre todas as celebrações sempre foram as celebrações da Semana Santa (a apelidada "prova de fogo" do coro) as que mais gostava. Era uma semana diferente... sempre com montes de ensaios e celebrações, a qual culminava com a vigília das vigílias... No final da Vigília Pascal o coro podia-se sentir cansado, mas sempre com a sensação de "dever cumprido".
No Domingo de Ramos do ano 2000 fui cantar pela primeira vez um Salmo à Sé... Cantei bem... pelo menos foi o que me disseram! Entretanto cantei muitas outras vezes Salmos na Sé. Nunca me senti melhor que ninguém por cantar Salmos, mas sou sincero, gostava bastante!
Nesse mesmo ano entrei para a universidade e fui viver para Coimbra. Contudo a minha ligação aos Stella não acabou por aí... Continuei a ir a alguns ensaios (principalmente no 1º ano de universidade) e a dar uma ajudinha ao Pe. Joaquim, mas principalmente aos "meus" tenores quando estes precisavam. Cantei em 9 Semanas Santas e em muitas outras celebrações... sempre com o mesmo gosto e o mesmo entusiasmo da primeira vez.
Com o passar dos anos vi entrar para o coro muita gente, entre eles a minha mãe, a minha irmã, as Margaridas, o Miguel, etc... aos poucos e poucos fui-me tornando num dos membros mais antigos do coro! Da ultima vez que cantei no Stella, contavam-se pelos dedos das mãos as pessoas que faziam parte do coro quando eu entrei... São, César Cardoso, Teresa, Narcisa, Milú, Custódia, Joaquim, Barradas, Pastorinho e claro, o Pe Joaquim, foram pessoas que me lembro de ver quando entrei para um ensaio a primeira vez...
Foram muitos os momentos que vivi ao lado dos Stella... Vi a minha irmã ir cantar o seu primeiro Salmo na Sé, o que, logicamente, me encheu de orgulho. Vi a minha mãe a chorar quando eu regressava do "Meu Deus, Meu Deus, Porque me abandonaste" no ano em que o meu avô morreu. Vi o meu irmão espalhar-se ao comprido no "A bondade do Senhor". Vi o coro ter bons momentos e maus momentos...
E dá-se que, ao fim de 10 anos o Pe. Joaquim deixa o coro...
Com a sua saída fechou-se também para mim um ciclo nos Stella. Como sempre disse não há pessoas indispensáveis nem insubstituíveis e eu não sou a excepção. Com um maestro que desconheço não faz sentido ir ajudar o coro, mesmo que este precise... Assim, mesmo estando presente na ordenação dos diáconos, não fui cantar para o coro. Foi uma sensação estranha... já não estava habituado a ir à Sé sem ser para ir para o coro. Mais estranho ainda foi o facto de ouvir o coro a cantar a maior parte das musicas a uma voz... Não que eu pense que, cantando a 4 vozes, se louve melhor a Deus, mas sempre foi a imagem de marca e o estilo dos Stella Matutina.
Não consigo perceber como é possível cantar cânticos tão batidos como "Hossana, tu reinarás", "Hino de comunhão" e "Senhor eu creio" daquela forma! Não percebo como cânticos como "Ecce vidimus" e "O vos omnes" não são cantados na Sexta-Feira Santa. Não percebo como os tenores estão tão fraquinhos... Sou sincero, mais valia estarem calados em alguns dos cânticos que cantaram...
Não conheço o novo maestro como maestro, mas não posso dizer que concorde com algumas das suas tomadas de posição. Conheço muitas pessoas dentro daquele coro e tenho ouvido muitas vozes descontentes... pessoas que diziam que vão sair. Penso que o novo maestro ainda não conseguiu perceber a estrutura e especificidade dos Stella, nem a sua "missão". Acho que alguém, para além de mim, se terá de aperceber disto sob pena da extinção dos Stella.