Não sei porquê frases como “faço-me à estrada”, “parto sem saber”, “deixo tudo para trás”, “se lá vou ficar”, fizeram-me pensar que estou em vésperas de completar 34 anos de pai. Não sei porquê o pensamento levou-me até à Maia. Não sei porquê lembrei-me de partilhar uma experiência.
Há algum tempo, falando com um casalinho de noivos, preparando a cerimónia do matrimónio e falando do amor, foi-me perguntado como definiria o amor.
Boa pergunta, disse eu. Olhei para o noivo (que foi quem me fez a pergunta) e disparei, mais ou menos assim:
Pega numa flor e oferece-a a um botânico. Ao vê-la ele reage como cientista: analisa-a, classifica-a e se porventura lhe é desconhecida, não descansará enquanto não descobrir a sua origem e qual a família a que pertence.
Pega numa outra e igual flor e entrega-a à tua amada noiva… Ela, ao vê-la, descobre-lhe uma mensagem. Aquela flor “diz-lhe “ qualquer coisa.
Eis que uma mesma flor é abordada de maneiras diferentes, de significações distintas, mas jamais incompatíveis. Tanto assim é, que podem coexistir botânicos apaixonados e apaixonados botânicos…
Há apenas uma diferença: um, situa-se ao nível do acontecimento – o que é?;
o outro coloca-se no âmbito da significação que reconhece o acontecimento – o que é que isto significa?
O amor, está acima das leis, não no sentido em que as contradiz, mas no sentido em que as utiliza. Ultrapassa as forças da natureza, não as violando.
Para a ciência, não há o milagre do amor – há factos que ela constata. A sua missão é explicar os acontecimentos e encontrar as causas.
Para quem ama, há AMOR. Aliás, o AMOR enquanto tal, só é reconhecido apenas por quem ama.
E a conversa continuou na mesma temática e foi pretexto para abrir a Bíblia em 1 Cor 13, 1-13, que é aquele maravilhoso hino ao amor escrito por S. Paulo. Abri a Bíblia e li. Depois convidei-os a reler os versículos 4 a 7.
“O amor é paciente, o amor é prestável, não é invejoso, não é arrogante nem orgulhoso, nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita nem guarda ressentimento. Não se alegra com a injustiça, mas rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.”
Estais a ver o que é o AMOR? perguntei eu aos pombinhos.
E eu continuei. Estais a ver que o amor não é para se definir, mas para se viver?
O amor é exigente. Pede tempo, atenção, respeito. O amor exige entrega.
Mas sempre adiantei uma definição…
Eu conheço uma definição de Amor, que não é minha. É a única definição de Deus em toda a Bíblia. Procuremos desde o Génesis até ao Apocalipse e só a encontramos em 1 Jo, 4, 16: “DEUS CARITAS EST” ou seja, DEUS É AMOR.
Já reparastes, continuei eu, porque hoje em dia é difícil deixar que o amor brote de dentro de nós e irradie no mundo? É que não arranjamos espaço para Deus nas nossas vidas, logo é muito difícil deixar mexer o coração e deixar mexer no coração.
E a conversa continuou com eles, que de mão dada, iam sorrindo e acenando com as cabeças.
Tomei a liberdade de lhes recordar que o amor é como uma flor e como tinha o computador comigo abri um “power point” que havia preparado…
Contava a história de uma jovem muito bonita, que tinha tudo quanto havia sonhado: filhos perfeitos, um marido maravilhoso, emprego estável e bem remunerado, em suma uma vida e família perfeita. No entanto os afazeres do trabalho ocupavam-na muito e pouco tempo restava para o marido e para os filhos.
Um dia, o pai, homem de sabedoria, ofereceu-lhe uma plantar muito rara, da qual não havia mais exemplares. Disse-o à filha, recomendando-lhe que apenas teria de cuidar dela regando-a, podá-la de vez em quando e conversar com ela. Se fizesse isso, a planta iria retribuir-lhe com lindas flores de perfume maravilhoso. A jovem ficou radiante, pois a planta tinha flores lindíssimas e colocou-a na marquise.
E a vida continuou. De vez em quando olhava para a planta e via a flor linda com pétalas sem sinal de fraqueza e continuava em frente.
Até que um dia, a jovem apanhou um susto. A planta morrera. Ela chorou e foi contar ao pai. O pai, entristecido disse-lhe que já não podia arranjar outra planta, pois aquela era única. E lembrou-lhe que únicos eram os filhos e o marido. Chamando-a à parte disse-lhe: Todos são bençãos que Deus te deu, mas tu tens que aprender a regá-los, a podá-los e dar atenção a eles, pois assim como a flor, os sentimentos também morrem. Tu vias a flor, sempre florida, sempre perfumada, e esqueceste-te de cuidar dela. Cuida das pessoas que amas! Dá tempo, beijos, abraços e carinho às flores que são os teus filhos e o teu marido.
Terminada a apresentação, reparei que uma lágrima marota, rolava pela face da jovem noiva, enquanto o noivo, fazia um esforço para esconder a emoção.
Meus caros, disse eu. No próximo sábado, vou abençoar uma planta que está no vaso que sois vós. È uma planta muito bela e rara que se chama MATRIMÓNIO e que teve origem numa flor linda: O AMOR. Cuidai dela. Dai-lhe tempo. Regai-a com a alegria da vossa vida aberta à vida. Adubai-a com a fortaleza da vossa oração. Lembram-se da flor? Como ela, são as bênçãos do Senhor no Matrimónio. É Ele que as dá, mas somos nós que temos de cuidar dela.
Depois, fomos à Igreja. Rezámos os três diante do Santíssimo e terminámos assim:
Lembras-te, Amor? No alvor do casamento
Amanheceu em nós a luz dos céus.
Coube, no nosso olhar, o firmamento;
E fizemos, então, o juramento:
- Só um do Outro e os Dois de Deus!
Lutei para cumprir o prometido.
Meu corpo e a minha alma são só teus.
Quando a voz das paixões me traz vencido,
A voz do amor segreda-me ao ouvido:
- Só um do Outro e os Dois de Deus!
À minha volta soa, noite e dia,
A risada escarninha dos ateus…
Cravam-me os estiletes da ironia;
Eu calo, e rezo a minha litania:
- Só um do Outro e os Dois de Deus!
Cerca-me a tentação, velha serpente!
Escondem-me o horizonte negros véus.
Que importa, meu Amor? Teimosamente,
Hei-de gritar à Vida, frente a frente:
- Só um do Outro e os Dois de Deus!
E amanhã, quando a Morte, de mansinho,
Vier pedir ao Mundo o nosso adeus,
Hão-de os anjos cantar, devagarinho:
- Terão na eternidade um só caminho,
Pois são só um do Outro e os Dois de Deus!
Foi o bonito… A noiva chorava e pediu que lhe desse uma cópia, pois tinha gostado muito. Eu disse que só lha dava, se me prometessem que a iriam rezar, todos os dias em que fizessem meses de casados. Foi feita a promessa e eu fotocopiei o poema.
Não sei se já o rezaram e continuo a não saber porque me lembrei da Maia, nem porque estou escrevendo aqui.
6 comentários:
Obrigado avô!
Depois deste texto que me fez chorar só me apetece cantar uma música que aprendi há muito pouco tempo mas que tanto me diz:
http://www.youtube.com/watch?v=0flSk_utmsU
A carta aos Coríntios continua com "O amor jamais passará. As profecias terão o seu fim, o dom das línguas terminará e a ciência vai ser inútil", mas tantas vezes não temos a humildade de o reconhecer.
Mais uma vez Obrigada.
Ontem tive uma sensação muito estranha quando li isto...
Parecia que temos conversado bastante... Ontem comentei com a Ana que falaste nalgumas coisas muito "nossas"... e foi mesmo!!! Algumas coisas aqui escritas parece que foram arrancadas dos meus dias, das minhas conversas com a Ana e do que nós temos vivido...
Essa sensação é estranha e o meu comentário foi (ela não me deixa mentir): "Pai é pai e o resto é conversa"
Beijo Zézinho
Confirma-se!
Ao que parece também se anda a fazer jardinagem aqui pela Maia... ou pelo menos a tentar :)
Palavras lindas e sábias... :) Obrigada...
Pai é mesmo aquela figura de protecção, mesmo estando longe quer em termos físicos quer com as suas preocupações do dia-a-dia, não se esquece de mostrar que está lá...
Beijinhos para a Maia :)
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