28 de abril de 2011


Há dias em que não conseguimos responder aos "porquês"...
Nesses dias é bom lembrarmo-nos em que mãos estamos e dar-mos graças por isso...


"Senhor a Ti me entrego
com todo o coração,
eu nunca fui tão sincero.
Não sei mais o que fazer,
sem Ti eu não sei viver.
Ouve a minha oração,
Senhor dá-me a Tua mão."



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26 de abril de 2011

One


Toda a contagem começa assim...

25 de abril de 2011

Vigília Pascal

Ao longo dos quarenta dias da Quaresma de 2011 iniciados com o Rito das Cinzas
em que fomos convidados pelo Profeta Joel:
"Rasgai os vossos corações,  não as vossas vestes". (Jl 2,12-18)
 por S. Paulo:
"Reconciliai-vos com Deus... Eis agora o tempo favorável."  (2Cor 5,20-6,2)

Jesus, no Evangelho,  apresentou-nos três práticas que devem ser realizadas com autenticidade... A Igreja, apontou-nos três Caminhos Quaresmais:  
- A Oração que nos leva a uma EXPERIÊNCIA pessoal com Deus...
 - O Jejum que nos leva a um gesto concreto de conversão: privar-se de algo para uma liberdade interior maior.  
- A Esmola que nos leva a  doar aos irmãos,  no serviço fraterno,  em gestos de solidariedade e de partilha
E foi assim que fizemos da nossa Quaresma, um tempo forte de conversão e renovação em preparação à PÁSCOA.


Fizemos no deserto da nossa vida, a experiência Da ORAÇÃO
                                               
Fizemos da Palavra de Deus... o nosso alimento

Descansámos no Senhor

Na nossa Quaresma também fomos tentados a abandonar o Plano de Deus

Certamente também foi tempo de RECONCILIAÇÃO

Vivemos a experiência da Partilha

Pela Transfiguração, Cristo mostrou-nos, que uma existência  feita dom não é fracasso, mesmo que termine na cruz

Descobrimos que Jesus é: “Água Viva” "Luz do Mundo“  e “O SENHOR DA VIDA”
                          
Celebrámos A Ceia do Senhor

Meditámos na Paixão e Morte de Jesus


E Eis-nos na Vigília Pascal


Ressuscitou
A celebração anual da Morte e Ressurreição do Senhor, tem o seu ponto culminante na VIGÍLIA PASCAL. Ela é o coração da liturgia cristã, o centro do ano litúrgico, a mais antiga, a mais sagrada, a mais rica de todas as celebrações. É como diz Sto. Agostinho: “A Mãe de todas as Vigílias”.
Nesta noite santíssima, a Igreja convida os seus filhos para numa vigília de oração celebrarem a PÁSCOA DO SENHOR na esperança e na alegria, para assim triunfarem com Cristo sobre a morte e de viverem com Ele para sempre.
A Vigília Pascal inicia-se com a bênção do lume novo. A Ressurreição gloriosa de Cristo é luz para todos os homens! É símbolo da vida que desponta, que se expande.


LITURGIA DA LUZ


Do meio das TREVAS surge uma nova luz, que se irradia progressivamente                 para todos os lados. E as VELAS que levamos nas mãos,  lembram-nos que unidos a Cristo... também nós venceremos...
Na Bíblia, o tema da Luz é muito rico: Deus é Luz... (1ª obra na Criação...). Jesus é a "Luz do Mundo", convida-nos a ser Luz do Mundo e garante-nos que "Quem me segue não anda nas trevas"
Cristo, simbolizado pelo CÍRIO PASCAL, é levado solenemente para a um lugar de destaque  na celebração.
Diante do Círio Pascal, sinal da presença gloriosa de JESUS CRISTO, a Igreja entoa o PRECÓNIO PASCAL – um Hino Triunfal – um verdadeiro poema de Acção de Graças, para celebrar a libertação do povo de Deus do Egipto, a libertação de Jesus do sepulcro, a nossa libertação do pecado e a passagem à Graça e anúncio da Páscoa Eterna.

LITURGIA DA PALAVRA
Nesta Noite Santíssima, são-nos apresentadas uma série de leituras bíblicas, que nos narram  várias etapas importantes da História da Salvação.

 Na CRIAÇÃO:A primeira leitura da Liturgia da Palavra desta Vigília, é a primeira página da Bíblia e nela é narrada a história do maravilhoso plano de Deus a respeito do mundo e do homem que Ele criou à Sua imagem e semelhança e preparou tudo para o fazer rei de toda a criação. Apesar da resposta negativa do homem, Deus promete um SALVADOR.

Na LIBERTAÇÃO: Deus após ter escolhido ABRAÃO, como Pai  de um grande Povo,      escolhe MOISÉS para iniciar a caminhada da Libertação. A travessia das águas do mar vermelho abre aos Hebreus o caminho para a Terra Prometida.
Esta passagem da Sagrada Escritura, anuncia-nos já o Baptismo: o Baptismo é também a passagem pela água que nos liberta do pecado e nos faz chegar à vida da Graça.

Os PROFETAS:  que acentuam a eterna misericórdia de Deus, que renova sempre a ALIANÇA, e impelem o povo a viver na FIDELIDADE.  É aos homens manchados pelo pecado que o Senhor diz: "Derramarei sobre vós águas puras, dar-vos-ei um novo coração". É esta a renovação que a Páscoa de Jesus oferece a todos nós e ao mundo.

SÃO PAULO: Dá uma importante Catequese Baptismal. A leitura que nos vai ser proclamada, é a melhor apresentação do sentido dos Baptismos que se celebram nesta Vigília. S. Paulo fala-nos do núcleo de toda a mensagem Pascal: SOMOS BAPTIZADOS NA MORTE DE CRISTO PARA NOS TORNARMOS PARTICIPANTES DA SUA RESSURREIÇÃO.



EVANGELHO: Durante 40 dias, a Igreja não cantou o aleluia, para entoar agora este canto de alegria e festa. E há um motivo. É que ergueu-se o Sol após a longa noite!
É o primeiro dia de uma nova criação! Jesus Cristo nosso Senhor, Ressuscitou e a Sua ressurreição gloriosa, prolonga-se em nós pelo Baptismo e pela Eucaristia.

LITURGIA BAPTISMAL

Das águas do Baptismo, nasce e edifica-se o novo Povo de Deus. Por isso, a Liturgia Baptismal vai dominar a terceira parte da nossa Vigília.
Serão cantadas as ladainhas pedindo a Deus por intercessão de todos os Santos, que nos confirme na fé e ilumine os catecúmenos.
Irá ser benzida a água baptismal, significando que toda a sua eficácia deriva do Mistério Pascal. Depois, seremos aspergidos, para memória do nosso Baptismo a fim de permanecermos fieis ao Espírito que recebemos. Por fim, com as nossas velas acesas na mão, renovaremos as promessas do nosso Baptismo, renunciando com determinação ao pecado e com alegria manifestaremos a nossa Fé.


E a Vigília termina com a Liturgia Eucarística.
Nela exprimimos a nossa alegria e dirigimos a nossa acção de graças pelas maravilhas realizadas nesta noite, “em que Cristo, nossa Páscoa, foi imolado”.
Tomando parte no banquete da Nova Aliança, ratificamos a nossa adesão a CRISTO VIVO E RESSUSCITADO.

Sexta-Feira da Paixão do Senhor


A Liturgia da Paixão do Senhor não tem a celebração da Eucaristia, mas apenas a distribuição da comunhão.
A Paixão do Senhor, não se pode tomar isoladamente, como um facto encerrado em si mesmo. É um dos momentos que constitui a Páscoa. Só se pode compreender à luz da Palavra de Deus.
A essa luz, a Paixão do “Servo sofredor” aparece-nos como uma obra em favor de todos nós.
Jesus surge não apenas como Vítima inocente e sofredora, mas também como Sacerdote. A Sua morte tem valor sacrificial, é um acto de mediação e causa de salvação. Não é tragédia, mas glorificação. A Cruz não é objecto de ignomínia, mas trono de glória!
A celebração deste dia, para além de uma introdução e conclusão silenciosa, tem três momentos distintos: A Liturgia da Palavra, a Adoração da Cruz e o Rito da Comunhão Eucarística.

Liturgia da Palavra

A primeira Leitura (Is 52,13-53,12),  apresenta-nos  uma síntese da vida e da acção de Jesus:  Ele é o Servo que carrega os pecados da humanidade. Por eles dá a vida na Cruz, mas a Sua morte tem como fruto a Vida, vivida com Ele no Pai.

A segunda Leitura (Hebr 4,14-16;5,7-9), diz-nos que Jesus Cristo, o Filho de Deus feito Homem é o  Único Sacerdote e Mediador entre Deus e a humanidade.

A Paixão segundo S. João, introduz-nos no mistério pascal.


Jesus morre no momento em que, no templo, se imolam os cordeiros destinados à celebração da Páscoa. A Sua imolação é uma imolação "real",  um Sacrifício realizado uma vez por todas.
O objectivo de João, não é o de fazer uma crónica detalhada dos factos,  mas alimentar
a fé dos discípulos e iluminá-los sobre o sentido do que aconteceu.
Fixemos a nossa meditação nalgumas características dessa narrativa.
Jesus era a "Luz", mas os homens amaram mais as trevas do que a "Luz", por isso O rejeitaram e condenaram.
O velho Anás orienta o processo de Jesus. Ele controlava toda a actividade no templo. Ele era o Sumo Sacerdote nesse ano e personifica quem ama as trevas e não suporta a "Luz", que expulsa os vendilhões do Templo.
Diante de Pilatos: Os judeus estão fora; Jesus está dentro; Pilatos no meio...
Terminada a noite iniciada com Judas ao sair do cenáculo, desperta um novo dia...
Ao meio dia: quando o sol brilha com mais intensidade, Pilatos proclama solene a Realeza: "Eis o vosso Rei".
Jesus em silêncio, aguarda a escolha de cada um...
O realce da Inscrição sobre a cruz: em várias linguas.  É a confirmação solene e oficial da realeza de Jesus: Universal.
As Vestes são divididas  em 4 lotes. A roupa representa a pessoa e o 4 representa os pontos cardeais. O Sacrifício de Cristo tem um valor universal.
A Mãe confiada ao Discípulo. Jesus convida a Mãe a acolher como filho todo discípulo   que tem a coragem de seguir o Mestre até a Cruz e convida a Comunidade  a considerar-se filha do Povo de Israel do qual Cristo nasceu.
A Morte de Jesus: Suave e serena, sem fenómenos... Cai o véu que impedia que o homem visse o rosto de Deus.   
Contemplemos agora Jesus na cruz, pobre, fraco, que se entrega totalmente.
"Tenho sede".: Palavras exclusivas em João, lembram a água viva  prometida à Samaritana.
O Espírito foi entregue... Explicita a relação entre o "Espírito" e do dom da água viva.   Do lado aberto, “do seu coração brotará uma fonte de água viva” (cf. Jo 7, 37-38).

Adoração da Cruz

Adorando a Cruz, adoramos e agradecemos a Jesus o Seu Amor

Eis o madeiro da Cruz!              Vinde, adoremos!

                                           Cruz fiel e redentora,
                                           Árvore nobre, gloriosa!
                                           Nenhuma outra nos deu
                                           Tal ramagem, flor e fruto.
                                           Doces cravos, doce lenho,
                                           Doce fruto sustentais!




Rito da Comunhão Eucarística

Felizes os convidados, para a Ceia do Senhor!

“Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”

Quinta-Feira Santa

 
Na Quinta-Feira Santa inicia-se o tempo mais sagrado do Ano Litúrgico: o TRÍDUO PASCAL, em que  revivemos e celebramos os Mistérios principais de nossa fé.
Toda Missa é Memorial da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. Mas, na Quinta-Feira Santa,  é-o particularmente mais...
Na CEIA de despedida, Jesus nos dá-nos o PÃO DA VIDA.
As Leituras bíblicas ilustram a celebração...


A 1ª Leitura fala da Instituição da Páscoa Judaica. (Ex 12,1-8.11-14).
Deus ordenou aos hebreus que imolassem um Cordeiro perfeito, que tingissem com o seu sangue as portas das casas, para que fossem poupados do extermínio dos primogénitos, e depois, comê-lo à pressa, como quem vai viajar.
Preservados pelo sangue do cordeiro e alimentados com a sua carne, deveriam iniciar a marcha para a Terra Prometida. Teriam de repetir esse rito todos os anos, em memória do facto. É a PÁSCOA DOS JUDEUS.
Jesus escolhe a celebração da Páscoa dos judeus para instituir a nova Páscoa, em que Ele é o verdadeiro Cordeiro, imolado na cruz e comido na Ceia Eucarística.
Por isso a Páscoa cristã também tem sentido de Libertação, partilha, preservação da vida, Memorial dos feitos de Deus...
Na 2ª Leitura, (1Cor 11,23-26) temos uma narrativa da Instituição da Eucaristia.É ao mais antiga narração da instituição da Eucaristia que chegou até nós e da sua celebração, nesta caso, na Igreja de Corinto.
Na última Ceia, Jesus Instituiu a Eucaristia e entregou-a à Sua Igreja, para que, na Eucaristia, a Igreja encontrasse, até ao fim dos tempos, o memorial da Sua Páscoa: a passagem deste mundo para o Pai, pela morte e ressurreição.
 

No Evangelho, (Jo 13,1-15), Jesus mostra-nos, com o gesto concreto do "Lava-pés", o espírito que devem ter os convidados para a Ceia.
Somos convidados por Jesus a penetrar com um olhar mais profundo o Mistério que se cumpriu pela primeira vez no Cenáculo... e que hoje se perpetua no Altar...
O Lava-pés é um gesto profético, que antecipa o sentido da cruz: a entrega de Jesus                     por amor até o fim.
Todos somos convidados a participar desse gesto... Deixemos que Ele lave os nossos pés…
Deixar-se lavar por Jesus, significa comungar com o Seu projecto de amor,  que O levou a entregar a Sua vida pela nossa salvação.
Vem, Senhor, lavar os meus pés para que possa sentar-me sempre na Tua mesa, no eterno convívio da alegria e do amor.
Na Quinta Feira Santa comemora-se a Instituição da Eucaristia
 
Neste dia, ouviremos: "Tendo amado os seus, amou-os até o fim, até a morte..." (S. João) e    - "Na noite em que ia ser entregue..." (S. Paulo). Que enorme contraste! Da parte de Cristo temos um amor infinito, que  amou até o fim. Da parte dos homens temos a traição, a negação e o abandono...
A Eucaristia é a resposta do Senhor à traição das suas criaturas.
A morte O arrebatará deste mundo, dentro de poucas horas, mas Ele perpetuará aqui a Sua presença real e viva...
Comemora-se também a instituição do Sacerdócio

Para perpetuar essa Eucaristia através dos tempos e lugares, Ele cria o SACERDOTE. Esse homem, que com suas limitações, é chamado a exercer a missão divina de  Guiar (Pastor), Evangelizar (Profeta), Santificar (Sacerdote).

A presença da Eucaristia entre nós leva-nos a actos de adoração.
Uns mais solenes e comunitários, outros mais discretos e pessoais, como a visita ao Santíssimo Sacramento ou uma simples genuflexão diante do Sacrário, na qual o nosso coração procura prostrar-se diante de Deus.
Em todos esses actos a alma eleva-se, sobe até Deus, quando desce à sua insignificância. Com esse aparente rebaixamento imitamos o Senhor na Eucaristia e somos por Ele elevados até à intimidade divina. 
Quinta Feira Santa, é o dia particularmente propício para a adoração ao Santíssimo Sacramento.
Façamos uma pausa na nossa vida e adoremos.

18 de abril de 2011

Vivendo a Quaresma - Domingo de Ramos


A cruz, que neste domingo, a liturgia coloca no horizonte próximo de Jesus, é o derradeiro passo do caminho de uma nova vida, que em Jesus, nos é proposto pelo Pai: a doação da vida por amor.
O povo de Jerusalém aclama Jesus cheio de alegria e esperança, como o Messias, o Libertador, que os iria libertar da escravidão política e económica  imposta pelos romanos e, da escravidão religiosa que massacrava todos com rigores excessivos.
Mas, é essa mesma multidão, que poucos dias depois, manipulada pelas autoridades religiosas, o acusariam de impostor, de blasfemador, de falso messias. E incitada pelos sacerdotes e mestres da lei, exigiria de Pilatos, que o condenasse à morte. 
É por isso que na celebração do Domingo de Ramos, são proclamados dois Evangelhos: o primeiro, que nos narra a entrada festiva de Jesus em Jerusalém, aclamado pelo povo; depois o Evangelho da Paixão, onde são relatados os acontecimentos do julgamento de Cristo.
A liturgia deste último domingo da Quaresma convida-nos a contemplar CRISTO, verdadeiro homem e verdadeiro DEUS que, por amor, veio ao nosso encontro, partilhando a nossa humanidade, fazendo-Se servo.
A Igreja, reunida para dar início à celebração da “Semana Maior” é convidada a dirigir o olhar para Jesus Cristo, o Messias das dores, o Messias do serviço, o Messias da glorificação.
É contemplando Cristo morto e ressuscitado, para nossa salvação, que descobrimos que a vocação da Igreja é a de Serva do Senhor, sinal e instrumento de salvação para todos os homens.

1ª Leitura - Is. 50, 4-7

O texto de Isaías, dá a palavra a um personagem anónimo, que fala do seu chamamento por Deus para a missão.
Essa missão tem três vertentes. Em primeiro lugar, a missão que recebe de Deus tem a ver com o anúncio da Palavra. O profeta é o homem da Palavra, através de quem Deus fala.
O profeta tem de estar, continuamente, numa atitude de escuta de Deus, para que possa depois apresentar, com fidelidade, essa Palavra de Deus para os homens.
Em segundo lugar, a missão profética concretiza-se no sofrimento e na dor. O anúncio das propostas de Deus provoca sempre resistências que, para o profeta, se concretizam, quase sempre, em dor e perseguição. No entanto, o profeta não se demite: o amor pela Palavra sobrepõe-se ao sofrimento.
Em terceiro lugar, vem a expressão de confiança no Senhor, que não abandona aqueles a quem chama. A certeza de que não está só, mas de que tem a força de Deus, torna o profeta mais forte do que a dor, o sofrimento, a perseguição. Por isso, o profeta “não será confundido”.

Não sabemos, quem é este “servo de Jahwéh”. Sabemos no entanto, que os primeiros cristãos utilizaram este texto como grelha interpretativa do mistério de Jesus: Ele é a Palavra de Deus feita carne, que oferece a sua vida para trazer a salvação aos homens…
Jesus, o “servo” sofredor, que fez da sua vida um dom por amor, mostra aos seus seguidores o caminho: a vida, quando é posta ao serviço dos outros, para os libertar, não é perdida mesmo que pareça.
Tenho a coragem de fazer da minha vida uma entrega radical ao projecto de Deus e à libertação dos meus irmãos?
O que é que ainda entrava a minha aceitação de uma opção deste tipo?
Tenho consciência de que, ao escolher este caminho, estou a gerar vida nova, para mim  e para os meus  irmãos?
2ª Leitura -  Filip 2, 6-11

A cidade de Filipos era uma cidade rica, cuja população era constituída maioritariamente por veteranos do exército romano. Estava organizada à maneira de Roma e dependia directamente do imperador; gozando por isso, dos mesmos privilégios das cidades de Itália.
Paulo tinha aí, fundado uma comunidade cristã que era uma comunidade entusiasta, generosa, comprometida, atenta às necessidades do Apóstolo e do resto da Igreja (cf. 2Cor 8,1-5 - o caso da colecta em favor da Igreja de Jerusalém).
Apesar destes sinais, não era, no entanto, uma comunidade perfeita…
O desprendimento, a humildade e a simplicidade não eram critérios de vida muito apreciados pelos altivos patrícios que compunham a comunidade.
É neste contexto que se situa o texto que nos é apresentado. É um verdadeiro hino cristológico em que Paulo convida os destinatários a encarnar os valores que marcaram a trajectória de Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Ele, não deixou de ser Deus, mas aceitou descer até aos homens, fazendo-se servo deles, para lhes garantir uma vida nova.
Esse “abaixamento” teve mesmo foros de escândalo: Jesus aceitou uma morte infame – a morte de cruz – para nos ensinar a suprema lição do serviço, do amor radical, da entrega total da vida.
Os valores que marcaram a existência de Cristo continuam a não ser apreciados neste nosso séc. XXI.
Segundo os critérios que presidem à construção do nosso mundo, os grandes “ganhadores” não são os que põem a sua vida ao serviço dos outros, mas são os que enfrentam o mundo com agressividade e fazem por ser os melhores, mesmo que, para isso, não olhem a meios para passar à frente dos outros.
Paulo tinha consciência que o que estava a pedir aos filipenses era algo realmente difícil. Mas é algo que é fundamental, à luz do exemplo de Cristo.
Também a nós é pedido, nestes últimos dias antes da Páscoa, um passo em frente neste difícil caminho da humildade, do serviço, do amor!
Será que queremos ser testemunhas da lógica de Deus?
EVANGELHO – Mt  26, 14 – 27, 66

A leitura do Evangelho de Domingo relata-nos a paixão de Jesus.
Descreve como o anúncio do Reino choca com a mentalidade da opressão e, portanto, conduz à cruz e à morte. Não podemos dissociar os acontecimentos da paixão daqueles que celebraremos no próximo domingo: a ressurreição é a prova de que Jesus veio de Deus e tinha um mandato do Pai para tornar realidade no mundo o “Reino dos céus”.

O Evangelista Mateus, ao longo do relato da paixão, insiste no facto de os acontecimentos estarem relacionados com o cumprimento das Escrituras.
Devemos ter em conta que Mateus escreve para os cristãos que vêm do judaísmo, por isso faz referência às promessas do Antigo Testamento, que eram conhecidas de cor por todos os judeus, demonstrando assim,  que Jesus era o Messias anunciado pelos profetas e cujo destino passava pelo dom da vida.
Contemplar a cruz, onde se manifesta o amor e a entrega de Cristo Salvador, significa assumir a atitude de quem se quer solidarizar com os que são crucificados hoje, aqui e agora. Os que sofrem maus tratos, os que são explorados e excluídos, os que são privados da sua dignidade…
Olhar a cruz de Jesus significa denunciar aquilo que gera ódio e medo provocando tanta traição, tanta desunião, tanto divórcio…
Olhar a cruz de Jesus significa opor-se que haja homens que continuem a crucificar outros homens...
Olhar a cruz de Jesus, significa aprender com Jesus, que é manso e humilde de coração, que sabe perdoar e entregar a vida por amor…
Viver deste modo pode conduzir à morte, é certo, mas o cristão sabe que amar como Jesus é viver sabendo que morte não pode vencer, pois o amor gera uma vida nova que nos conduz à ressurreição.
Para Jesus Cristo, o Diácono do Pai, só contava uma coisa: salvar a humanidade!
Como? Libertando-a do egoísmo, da violência, do orgulho, de tudo o que leva à morte e à infelicidade, fazendo a proposta do serviço, do acolhimento, do perdão, ou seja, de tudo o que leva à vida e à felicidade.
Essa vida que conduz à felicidade, tem um nome: O AMOR! E foi-nos ensinado por Cristo, apaixonado do Pai e da Sua vontade.
Durante esta Semana, a Semana Santa, fixemos os olhos em Cristo, admirando a Sua grande Paixão por Deus Seu Pai, concretizada na paixão pelos homens seus irmãos, deixemo-nos contagiar para que também sejamos apaixonados!



11 de abril de 2011

Vivendo a Quaresma - 5º Domingo

Estamos vivendo o 5º Domingo da Quaresma de 2011, dia em que a liturgia nos garante que DEUS NOS QUER COMUNICAR UMA VIDA para além da vida biológica.
É a Igreja, que pelo Baptismo, gera uma vida nova. Diz-nos o Concílio Vaticano II: “A Igreja, pela pregação e pelo Baptismo, gera, para a vida nova, os filhos concebidos por acção do Espírito Santo e nascidos de Deus” (LG 64) e “ Pelo Baptismo são os homens enxertados no Mistério Pascal  de Cristo: mortos com Ele, sepultados com Ele, com Ele ressuscitados” (SC 6).
 
1ª Leitura – Ez 37,12-14
 

Situemo-nos para compreender o ambiente em que o texto foi escrito.
Ezequiel, sendo o profeta da esperança, está desterrado na Babilónia desde 597 a.C. (a deportação dá-se quando Nabucodonosor conquista, pela primeira vez, Jerusalém).
O ministério de Ezequiel, podemos dividi-lo em duas fases. A primeira, que decorre entre 593 aC (altura em que aconteceu o chamamento de Deus) e 586 aC (altura em que Jerusalém é arrasada pelo exército de Nabucodonosor e acontece nova leva de exilados para a Babilónia). É uma fase em que o profeta procurava destruir falsas esperanças, anunciando que o cativeiro estava para durar. Mais, que os que tinham ficado em Jerusalém e que continuavam a pecar (mantendo uma atitude de infidelidade para com Deus), iriam engrossar o número dos desterrados.
A segunda fase do ministério de Ezequiel decorre a partir de 586 aC., até por volta do ano 570 aC, altura em que os exilados, vivendo numa terra estrangeira, sem Templo, sem sacerdócio e sem culto, estavam desesperados e duvidavam da bondade e do amor de Deus.
É dessa fase o texto que nos é proposto como primeira leitura. Um tempo em que o profeta procura alimentar a esperança e transmitir ao Povo a certeza de que o Deus libertador e salvador não os abandonou.
Os exilados, estão numa situação de tal desespero que poderemos considerar como estando numa situação de morte, pois não vêem perspectivas de futuro. O texto refere essa ausência de esperança como “estar no sepulcro”.
Deus promete ao Povo o regresso à sua terra, restaurando a esperança dos exilados num futuro de paz. Mais ainda, derramará o Seu Espírito – o ruah – sobre o Seu Povo.
Ruah não o podemos traduzir numa só palavra. É uma palavra hebraica que indica sopro de vida, vento, movimento do ar, hálito, espírito. É o vento criativo de Deus!

Quantas vezes, passamos,  por situações de desespero, em que tudo nos parece não ter sentido.  A morte de alguém que nos é querido, o desmoronar da família,  a traição de  alguém a quem amamos, a perda do emprego, eu sei lá, tantas coisas que nos lançam no vazio do qual parece não sermos capazes de sair.
Hoje, a Palavra de Deus garante-nos que não estamos abandonados… Deus caminha ao nosso lado. Em cada momento, lá está Ele, o único capaz de tirar vida da morte, a dizer-nos: “Vou abrir os vossos túmulos e deles vos farei ressuscitar
É sempre Deus e só Deus, que oferece aos homens a vida e a esperança…
No entanto Ele actua no mundo através dos homens, exactamente como actuou através de Ezequiel. Deus distribui uma vida nova com as palavras e os gestos dos homens.
Actualizemos em nós a Mensagem:
Já pensei que Deus me chama a ser uma luz de esperança no mundo?
Já tomei consciência de que é através dos meus gestos e das minhas palavras que Deus oferece a Sua vida aos homens meus irmãos, que peregrinam comigo?
Acredito que é o Espírito de Deus que me faz sair dos "túmulos" do desespero e do medo em que por vezes estou?


1ª Leitura – Rom 8,8-11
 

Na 2ª Leitura, Paulo lembra-nos  que foi o Espírito de Deus que ressuscitou Cristo e continua a sublinhar a unidade da revelação e da história da salvação: Deus tem um projecto de salvação para todos os homens, sem excepção.
E como é que a vida de Deus se comunica ao homem? Paulo desenvolve o seu pensamento de acordo com a seguinte sequência: a obediência de Cristo ao plano do Pai fez com que a graça da salvação fosse oferecida a todos os homens!
Acolhendo essa graça e aceitando receber o Baptismo, o homem (todo o ser humano) torna-se participante do dom de Deus.
A adesão a Cristo, torna os homens livres das cadeias do egoísmo e das amarras do pecado, transformando-os em homens novos. É o Espírito - que recebemos no Baptismo - que potencia essa vida nova.
Seguindo o pensamento teológico de Paulo, o Espírito é o responsável pelo facto de a vida nova que Deus oferece ao homem crescer e se desenvolver.
S. Paulo desenvolve nesta carta, uma das suas mais famosas antíteses: “carne”/”Espírito”.
Viver segundo a carne” significa, em Paulo, uma vida conduzida à margem de Deus enquanto que “viver segundo o Espírito” significa, uma vida vivida na órbita de Deus, conduzida pelos valores da caridade, da alegria, da paz, da fidelidade e da temperança, conforme nos diz na carta aos Gálatas.
Paulo recorda-nos que o cristão, no dia do seu baptismo, optou pela vida do Espírito. A partir daí, vive sob o domínio do Espírito. Está identificado com Cristo.
É, pois, o Espírito – presente naqueles que aderiram a Jesus e renunciaram à vida da “carne” – que liberta os crentes da morte do pecado, transformando-os em homens novos, os conduz à vida plena e definitiva.
Na verdade, no dia do meu Baptismo, através dos meus pais e padrinhos escolhi a vida “segundo o Espírito” e mais tarde, tive a oportunidade – em vários momentos da minha caminhada cristã – de confirmar essa opção inicial.
Hoje pergunto-me: A minha vida tem sido coerente com essa opção? Na minha vida tem sido uma “vida segundo a carne” ou uma “vida segundo o Espírito”?

Evangelho – Jo 11, 1-45
 
“Eu sou a ressurreição e a vida, diz o Senhor.
Quem acredita em Mim nunca morrerá.”
 
No Evangelho, Jesus apresenta-se como o SENHOR DA VIDA. É uma narração que não tem paralelo nos Evangelhos sinópticos.
A família de Betânia apresenta características dignas de nota…
O Evangelista, não faz qualquer referência a outros membros, para além de Maria, Marta e Lázaro: não há pai, nem mãe, nem filhos.
S. João insiste no grau de parentesco que une os três: são “irmãos”. Relembremos que a palavra “irmão” (“adelfós”em grego) será a palavra usada por Jesus, após a ressurreição, para definir a comunidade dos discípulos e era assim o tratamento entre os membros da primitiva comunidade cristã (Jo 21,23).
É uma família amiga de Jesus, que ama Jesus e que recebe Jesus em sua casa.
Um dos irmãos (Lázaro) está gravemente doente. As “irmãs” mostram a sua preocupação para com o “irmão” doente e informam Jesus.
A relação de Jesus com Lázaro é de afecto e amizade; mas Jesus não vai imediatamente ao seu encontro; parece, até, atrasar-se deliberadamente. Jesus deixa que a morte física do “amigo” se concretize. Este pormenor significa que Jesus não veio para alterar o ciclo normal da vida física do homem, libertando-o da morte biológica; veio, sim, para dar um novo sentido à morte física e para oferecer ao homem a vida eterna.
Depois de dois dias, Jesus resolve dirigir-se à Judeia ao encontro do “amigo”.
Jesus, ao chegar a Betânia, já o “amigo” tinha sido sepultado havia quatro dias.
Dá-se o encontro com Marta e Jesus inicia a sua catequese dizendo-lhe: “teu irmão ressuscitará”.
Marta pensa que as palavras de Jesus são uma consolação banal e que Ele se refere à última intervenção de Deus na história humana. Isso ela já sabe; mas não chega: esse último dia ainda está tão longe…
Jesus, no entanto, não fala da ressurreição no final dos tempos. O que Ele diz é que, para quem é amigo de Jesus, não há morte, sequer. Jesus é “a ressurreição e a vida”. Para os seus amigos, a morte física é apenas a passagem desta vida para a vida plena. Jesus não evita a morte física; mas Ele oferece ao homem essa vida que se prolonga para sempre.
A comunidade de Jesus (a comunidade dos que aderiram a Ele e ao seu projecto) é a comunidade daqueles que já possuem a vida definitiva. Eles passarão pela morte física; mas essa morte será apenas uma passagem para a verdadeira vida. E é essa vida verdadeira que Jesus quer oferecer. Perante esta catequese que culmina com “acreditas nisto?”, Marta manifesta a sua adesão ao que Jesus diz e professa a sua fé no Senhor que dá a vida “acredito, Senhor, que Tu és o Messias, o Filho de Deus que havia de vir ao mundo”.
Marta que encontrara n’Ele a resposta para a situação que a fazia sofrer – convida a irmã a sair da sua dor e a ir ao encontro de Jesus.
A cena da ressurreição de Lázaro começa com Jesus a chorar. Jesus mostra, dessa forma, o seu afecto por Lázaro, a saudade do amigo ausente. Ele, tal como nós, sente a dor, diante da morte física de uma pessoa amada. Mas a sua dor não é desespero.
Jesus chega junto do sepulcro de Lázaro. A entrada da gruta onde Lázaro está sepultado está fechada com uma pedra. A pedra é, aqui, símbolo do definitivo da morte. Separa o mundo dos vivos do mundo dos mortos. Mas Jesus, no entanto, manda tirar essa “pedra” ou seja, abate as barreiras criadas pela morte física.
A acção de dar vida a Lázaro é a concretização da missão que o Pai confiou a Jesus: dar vida plena e definitiva ao homem.
A questão principal do Evangelho deste domingo –  é uma questão determinante para a nossa existência de cristãos – é a afirmação de que não há morte para os “amigos” de Jesus – isto é, para aqueles que acolhem a sua proposta e que aceitam fazer da sua vida uma entrega ao Pai e um dom aos irmãos.
Os “amigos” de Jesus experimentam a morte física; mas essa morte não é destruição, é apenas, a passagem para a vida definitiva. Mesmo que estejam privados da vida biológica, não estão mortos: encontraram a vida plena, junto de Deus.
A família de Betânia, representa a “comunidade cristã”, formada por irmãs e irmãos. Uma família em que todos conhecem Jesus, em que todos são amigos de Jesus, em que todos O acolhem na casa da sua vida. Essa família passa pela experiência da morte, mas como são amigos de Jesus sabem que Ele é a Ressurreição e a vida

3 de abril de 2011

Vivendo a Quaresma - 4º Domingo

 
A Liturgia deste Domingo continua a Catequese Baptismal da Quaresma. Na passada semana, vimos o símbolo da Água, com o episódio da Samaritana. Hoje é-nos apresentado o tema da Luz, com a cura do cego de nascença.
1ª Leitura – 1 Sam 16,1b.6-7.10-13ª

O autor do texto que nos é posta à reflexão, mostra que a lógica de Deus é bem diferente da lógica dos homens. É impressionante a lógica da escolha de Deus.
Samuel raciocina com a lógica dos homens e pretende ungir como rei o filho mais velho de Jessé de Belém, considerando o seu belo aspecto e a sua estatura.
No entanto, não é essa a escolha de Deus…
Samuel percebe, que a escolha de Deus recai sobre David – o filho mais novo de Jessé – um jovem anónimo e desconhecido que andava a guardar o rebanho do pai.
A história da eleição de David quer sublinhar a lógica de Deus, que escolhe sem ter em conta os méritos, o aspecto ou as qualidades humanas que costumam impressionar os homens. Pelo contrário, Deus escolhe e chama, com frequência, os pequenos, os mais fracos, quantas vezes os que o mundo marginaliza ou considera insignificantes.
É bem verdade que Deus nem sempre chama os mais capacitados, mas capacita sempre os chamados.
Fica, mais uma vez claro que quem conduz a obra da salvação é Deus; os homens são apenas instrumentos, através dos quais Deus realiza a sua obra no mundo.
Levemos a sério, na nossa vida, o que nos diz o texto: “Deus não vê como o homem; o homem olha às aparências, o Senhor vê o coração”.
É preciso, sobretudo, aprender a respeitar a dignidade de cada ser humano, mesmo quando não parecem pessoas importantes ou influentes.
Procedemos assim no nosso local de trabalho? Nos serviços que prestamos ou nas pessoas que acolhemos? É isso que acontece quando abrimos a porta da nossa casa?

2ª Leitura - II Ef 5, 8-14

 


A Carta aos Efésios é, provavelmente, um dos exemplares da chamada “carta circular” enviada por Paulo, às Igrejas da Ásia Menor, numa altura em que estaria na prisão. Estamos por volta do ano 58/60 e foi seu portador é um tal Tíquico.
O tema central da Carta é aquilo a que Paulo chama “o mistério” ou seja, o desígnio salvador de Deus, definido desde toda a eternidade, revelado e concretizado de forma plena em Jesus, comunicado aos apóstolos e dado a conhecer ao mundo na Igreja.
Para Paulo, viver nas “trevas” é viver à margem de Deus. É recusar as Suas propostas. É viver prisioneiro das paixões e dos falsos valores.
Ao contrário, viver na “luz” é acolher o dom da salvação que Deus oferece. É aceitar a vida nova que Ele propõe. É escolher a liberdade. É tornar-se “filho de Deus”.
Para mim, o que significa, em concreto, “viver na luz”? O que é que isso, em termos práticos, implica? Quais são os esquemas, comportamentos e valores que devem ser abolidos da minha vida?
Que me impede de ser uma testemunha da “luz”?
O Apóstolo termina a sua carta com um convite à vigilância: “desperta tu que dormes…”.
É um desafio a nós, cristãos do século XXI. O cristão não pode ficar de braços cruzados perante tanto egoísmo, tanta injustiça, tanta exploração, que torna, escura a vida dos homens e da sociedade.
Perante tanta indiferença e contra-valores, qual a minha atitude? É a atitude comodista do deixa andar ou é uma atitude de quem quer construir um mundo novo onde haja luz?


Evangelho –  Jo 9, 1-41

Na narração aparece-nos além de Jesus, um cego. Os “cegos” eram excluídos da sociedade de então. As deficiências físicas eram consideradas como resultado do pecado.
Na concepção da época, Deus castigava de acordo com a gravidade da culpa. A cegueira era o resultado de um pecado grave, pois uma doença que impedisse o homem de estudar a Lei era considerada uma maldição de Deus. Porque possuidores de uma condição de impureza notória, os cegos eram impedidos, por exemplo,  de serem testemunhas em tribunal ou de participar nas cerimónias religiosas no Templo.
O “cego” perante o qual estamos, será o símbolo de todos quantos, vivendo na escuridão, estão privados da “luz”.
Tudo começa com uma pergunta dos discípulos a Jesus: “Mestre, quem é que pecou para ele nascer cego? Ele ou os seus pais?”.
Eis a resposta do Mestre: “Isso não tem nada que ver com os pecados dele ou dos pais…”.
E depois de uma catequese faz um pouco de “lama”, com ela unge os olhos do cego e manda-o lavar-se à piscina de Siloé. Reparemos que a cura não é imediata, requer a cooperação daquele que não vê. O Evangelista quer mostrar-nos que a disponibilidade do cego representa a sua adesão à proposta de Jesus. Quando estamos mergulhados nas nossas trevas estamos disponíveis para nos “lavarmos”?
 
Mas o Evangelho coloca em cena ainda vários personagens:
- Os vizinhos e conhecidos do cego que percebem o dom da vida que vem de Jesus e talvez aspirem pelo encontro com Jesus, mas não se atrevem a dar o passo decisivo e definitivo. Representam aqueles que percebem a novidade da proposta que é Jesus, que sabem que essa proposta é libertadora, mas que vivem no comodismo e não estão dispostos a sair do seu “cantinho” para irem ao encontro da “luz”.
- Um outro grupo que aparece em cena é o dos fariseus. Eles conhecem a "luz", mas recusam-se em aceitá-la. Acusam-no de transgredir a lei do sábado e expulsam o cego da sinagoga. Representam aqueles que conhecem a novidade de Jesus, mas não estão dispostos a acolhê-lo e até hostilizam os seus seguidores.
- Depois, aparecem em cena os pais do cego que se limitam a constatar o facto, (o filho nascera cego e agora vê) sabem-no bem, mas evitam comprometer-se... O texto explica, inclusive, que eles “tinham medo de ser expulsos da sinagoga”. Representam todos aqueles que por medo não têm coragem de passar das trevas para a Luz. Preferem a segurança da ordem estabelecida, do que correr riscos...
Reparemos no “percurso” que o cego fez.
Antes de se encontrar com Jesus, é um homem prisioneiro das “trevas”. È dependente e limitado. Depois, encontra-se com Jesus e recebe a “luz” (do encontro com Jesus resulta sempre uma proposta de vida nova para o homem).
O Evangelho descreve, com simplicidade e muita beleza, a progressiva transformação que o homem vai sofrendo.
Nos momentos seguintes à cura, ele não tem ainda grandes certezas.
Reparemos que quando lhe perguntam por Jesus, ele responde: “não sei” e quando lhe perguntam quem é Jesus, ele responde: “é um profeta”.
Mas… a “luz” que agora brilha na sua vida vai-o amadurecendo pouco a pouco…
Quando é intimado a renegar a “luz” e a liberdade recebidas, ele torna-se, num homem:
                                      Livre - diz o que pensa...
                                      Corajoso - não se intimida
                                      Sincero - não renuncia à verdade
                                      Firme -suporta a violência até expulso da sinagoga

Por fim, o Evangelista descreve o reencontro do ex-cego com Jesus que o convida a aderir a Si e ao Seu projecto de Vida perguntando-lhe: “Acreditas no Filho do Homem?” A resposta do ex-cego é a adesão total: “Creio, Senhor!”. O título “Senhor” -“kyrios” era o título com que a comunidade cristã primitiva designava Jesus, o Senhor Glorioso, Ressuscitado, Vivo.
O texto, acrescenta que o ex-cego se prostrou e adorou Jesus, ou seja, reconheceu Jesus como o projecto de Homem Novo que Deus apresenta aos homens, aderir a Ele e segui-lO.
Neste percurso está representado o caminho do catecúmeno.
                           - O encontro com Jesus
                           - A sua adesão à “luz”
                           - Amadurecimento da sua descoberta
                           - Torna-se, progressivamente, um homem livre, sem medo, confiante
                           - Adesão total a Jesus que tem uma proposta de vida para o homem
Depois disto, a nós cristãos, nada mais interessa do que seguir Jesus porque:
           - Conduziu à luz da fé a humanidade que caminhava nas trevas.
           - Nos elevou à dignidade de filhos fazendo-nos renascer das águas do Baptismo.

Durante a caminhada desta semana vou perguntar-me:
O que é que, no meu mundo, gera escuridão, trevas, cegueira e morte?
O que é que me impede de ser livre e de se realizar em mim o projecto de Deus?
Receber a “luz” que Cristo oferece é, também, acender a “luz” da esperança no mundo. O que é que eu faço para eliminar as “trevas” que geram sofrimento, injustiça, mentira…?
A “luz” de Cristo que os padrinhos me passaram no dia em que fui baptizado brilha em mim e ilumina o mundo?